Eu sempre começo numa música por ganho ou perda de algo. Ou ganho pra ouvir de alguém que gosto tanto. Ou perco o pudor dos bons modos e vou ouvindo as músicas de outras pessoas. É que tem tanta gente na vida e tanta música boa pra se ouvir. Que não podemos nos focar em uma só. Em uma só música. Em uma só pessoa. Ah, cada uma tem sua individualidade, seu sabor, sua coisa boa que dá bem ali naquele paralelo de sentido entre boca de estômago e pulmão. Bem ali onde se pode sentir o coração e até ouvir. Tenho essa mania de imaginar som pra todo tipo de movimento. E eu 'tô' dizendo que cada um é raro em sua beleza humana. Seja essas poesias sonoras. Ou essas pessoas que vivem sua própria poesia como desafio na vida. Que coisa boa não vem fácil. Mais vai. E vai indo na vida por bobeira nossa. Essa besteira de se importar tanto. Seja com pedaços de panos pra vestir o corpo do tal pecado original. Me contaram essa história quando eu era criança. Que o mundo só é mundo, como a gente conhece. Com tantos pudores e coisas do tipo, por culpa do tal pecado original. Imagine, que só nos vestimos de roupas por conta de uma coisa dessa. Minha cabeça de criança ficou por conta de revolta e vontade de quebrar o gelo e propor a nudez. Acho que é por isso que tenho essa alma despida de todo jeito das coisas. Ando nua no que sinto. Ainda que finja que não, tem meus olhos que me tiram toda a roupa da alma. Sempre aquela cara de não gostei de algo. Ou gostei muito. E essa bobeira da vida, de nós importarmos tanto com coisas outras que nos faz querer trasbordar. E muitas vezes nos destilamos em pragas de manias. Ah, tenho lembrado tanto da infância. Mas de um jeito meu, sabe? Daquele modo taciturno de me portar. De tudo que senti e percebi. E as vezes da saudade até de cheiro e sabor. Recorro a certas músicas e melhoro. Sempre na saudade. Ah, eu me perco muito em tudo que digo, que faço, que sinto, que escrevo. É por isso que sou sonora. Tenho música pra tudo e se não tenho, invento. Cada cena da vida. Cada coisa boa. Cada coisa à toa. Todo gesto. Todo jeito. Tudo na vida é bom de se fazer som. Ou se lembrar de algum. Nem que seja pra sair cantando pelas ruas da cidade, mesmo que te olhem como olham para os doídos. Que as vezes música cantada vira diálogo e ai me perco. Não noto nada a minha volta. Apenas cada detalhe em cada coisa.
(26/08/2013 - 22:35)