Textos velhos e novos. Um emaranhado de sentimentos à flor da pele.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E sorria com a boca cheia dentes. E curvava as bochechas na altura dos olhos. E vestia nada. Só casaco comprido pra proteger do frio das aves. Só que nem via mais ave pela manhã. Acordava cedo por despretensão. Sorria a beira da imagem de São benedito depois do sinal da cruz. Mas não vestia nada. Só 70% algodão e mais 30 de poliéster. Sentia frio. E a tontura ditada pelos 9/5 da pressão. Mas sentia o sol. E sempre nua. A parte de que. Era sorriso desnudo. E os olho sempre perdidos e meio fechados. Olhos. Nus. Espremia o lóbulo dos olhos na tentativa de enxergar. E via tudo. Reparava. Em cada feira. Em cada roupa. Em cada cada. Não sabiam dela. Nada. Apenas suposições contidas de quase poetas. Tentava. Levava mistério no olho. Que logo sumia com brilho infantil. Fazia graça mas levava a sério. A vida. Só não se preocupava tanto em planejar caretas de quem não se importa na vida. Com nada. Ou se esquecia e acabava vivendo. 

(29/08/2013 - 18:17)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Eu me despersonificava na tentativa de te engrandecer. E me diminuía. Mal sabia que era preciso quase nada pra te fazer igual. Coisa rasa é fácil ser preenchida de vazios. Acordava desses meio sonos e quase embriaguez. Era tola enquanto sonhava aquele sonho de igualdade e liberdade de ser. Eu.

(Sobre pessoas e a falta de lonjura interna. No geral. 26/08/2013 - 23:37)
Eu sempre começo numa música por ganho ou perda de algo. Ou ganho pra ouvir de alguém que gosto tanto. Ou perco o pudor dos bons modos e vou ouvindo as músicas de outras pessoas. É que tem tanta gente na vida e tanta música boa pra se ouvir. Que não podemos nos focar em uma só. Em uma só música. Em uma só pessoa. Ah, cada uma tem sua individualidade, seu sabor, sua coisa boa que dá bem ali naquele paralelo de sentido entre boca de estômago e pulmão. Bem ali onde se pode sentir o coração e até ouvir. Tenho essa mania de imaginar som pra todo tipo de movimento. E eu 'tô' dizendo que cada um é raro em sua beleza humana. Seja essas poesias sonoras. Ou essas pessoas que vivem sua própria poesia como desafio na vida. Que coisa boa não vem fácil. Mais vai. E vai indo na vida por bobeira nossa. Essa besteira de se importar tanto. Seja com pedaços de panos pra vestir o corpo do tal pecado original. Me contaram essa história quando eu era criança. Que o mundo só é mundo, como a gente conhece. Com tantos pudores e coisas do tipo, por culpa do tal pecado original. Imagine, que só nos vestimos de roupas por conta de uma coisa dessa. Minha cabeça de criança ficou por conta de revolta e vontade de quebrar o gelo e propor a nudez. Acho que é por isso que tenho essa alma despida de todo jeito das coisas. Ando nua no que sinto. Ainda que finja que não, tem meus olhos que me tiram toda a roupa da alma. Sempre aquela cara de não gostei de algo. Ou gostei muito. E essa bobeira da vida, de nós importarmos tanto com coisas outras que nos faz querer trasbordar. E muitas vezes nos destilamos em pragas de manias. Ah, tenho lembrado tanto da infância. Mas de um jeito meu, sabe? Daquele modo taciturno de me portar. De tudo que senti e percebi. E as vezes da saudade até de cheiro e sabor. Recorro a certas músicas e melhoro. Sempre na saudade. Ah, eu me perco muito em tudo que digo, que faço, que sinto, que escrevo. É por isso que sou sonora. Tenho música pra tudo e se não tenho, invento. Cada cena da vida. Cada coisa boa. Cada coisa à toa. Todo gesto. Todo jeito. Tudo na vida é bom de se fazer som. Ou se lembrar de algum. Nem que seja pra sair cantando pelas ruas da cidade, mesmo que te olhem como olham para os doídos. Que as vezes música cantada vira diálogo e ai me perco. Não noto nada a minha volta. Apenas cada detalhe em cada coisa.

(26/08/2013 - 22:35)

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sou do tempo em que se empinava capucheta por falta de papagaio. Ou de espaço. Ou por medo da vó. Rabiola de capucheta é menos arriscada que de papagaio dos grandes. Porque voa mais baixo. E quase não se pode brincar. E era feito pedaço de folha de jornal, com notícia antiga, que era pra não gastar. Ou com folha de caderno velho. Com uns rabiscos de canetinha e lápis-de-cor e uns furos de tesoura ou ponta de caneta e já ia pregando umas linhas por todos os furos que era pra ver se dava a sorte de se levantar voo. Quase nunca dava. E que o que importava mesmo era toda a engenharia - sempre falha - por trás de cada capucheta esquematizada.

(23/08/2013 - 20:13)
A manhã é assim. Com sol indolor. Lambida no pé, coisa de carência canina. Quedas de pressão que nem se faz conta e samba calmo pra adoçar a vida. Acordar antes das 08:00 é que é vida. Andar pelas ruas com ares de Bom dia no rosto. Com esse frescor de manhã. Sem cheiro de ressaca de insônia. Com a calmaria própria dos dias que começam cedo. Isso sim que é jeito bom de fazer as coisas.

(23/08/2013)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Olhei bem fundo nos olhinhos acrílicos. Pretos em tons de gude. Sorria aquele sorriso fixo. Com boquinha rosa e dentes bem brancos. Sem nenhuma divisão. Como se todos fossem um grande dente. As mãos em posição mesma por toda aquela vida. E o corpo firme e macio de poliéster. A roupinha: um vestidinho em tom pastel com umas flores amarelinhas e mal podia se enxergar a pintura verde das folhas. Apertei no meu peito. Acariciei aquele cabelo duro de liso com cachos presos com elástico de se prender caixa de ovo. Um laranja tão água-de-salsicha. Três pingos marrons em cada bochecha. Faziam-se de sardas. E nem era daquelas que fazem algum barulho chiado se aperta a barriga. Sempre muda. calada. Cada dia levava um nome. Cada hora era filha de alguém que se tirava da cabeça. Mas naquele instante. E no mais dolorido momento de se largar no chão - porque nem em cima da cama poderia deixar. Dorme-se o corpo cansado dos adultos sobre a cama. Não tem lugar para mais nada - foi que peguei com mais força as mãozinhas estáticas. Sorri. Cansada. Tristonha. Embasbacada. Meio sem rumo na vida. Meio sem nada que se preze. Horizonte embaçado. Respirei fundo com suspiro que se perguntava o que fazer da vida. Gravei na cabeça o que tinha colocado nela. Estou me liquidando. E estava mesmo. Arrumando tudo e meio perdida na vida. Perdida. Na vida. Não tinha outro jeito, soltei suas mãozinhas. Foi caindo rápido mas para mim era eternidade desmedida. Fez onomatopeias de quem cai no chão. Nem chorou. Continuou estática. Com o mesmo sorriso branco de dentão único. Nem fechou olhos como se faz quando se tem medo. Só ficou ali. Caída. Eu poderia recolher. Pega-la. Abraça-la e sussurrar desculpas no pé da orelha que nem buraco de ouvido tinha. Soltei a mão da minha boneca e foi como pegar umas dúzias de roupa e por num lençol velho amarrado em cabo de vassoura e como retirante sair pela vida. Experimentando o doce e o amargo dela. O duro. Fiquei desnorteada. Sem saber o sentido que se da na vida. Tentei parar para respirar e pensar. Mas faltava o ar. Estava muito pesado dentro de um clima tão turvo. A sensação é de estar vestida de regata na madrugada mais fria da estação mais gelada do ano. Não se poupa força de vontade, principalmente de se começar a viver. Só é difícil traçar itinerário para a vida. E no ato mais forte para menina é que se aprende na marra a crescer. E ainda assim se perde nuns montes de coisas a ter de resolver. Bem mais difícil que encostar colher de plástico na altura da boca da boneca e acreditar que ela comeu tudo. 

(19/08/2013 - 00:40)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Corria na cozinha por falta de sal. Era confusão em nível de tontura que cambaleou uns passos rasos. Chegou. Voltou sem sucesso para a cadeira macia. Antes era seu. Apenas seu. Depois dividiu. E agora, já tinha perdido a coberta para o gato. Uma bola gorda de pelos que lembrava sorvete com calda. De chocolate. Era enjoado como. Mas ficou aflita na sede e no susto de uma cólica renal que subia a espinha. Será? Temia. Cobriu-se de frio e logo esquentou. Escrevia confusa palavras sem nexos. fazia-se entender. É uma dislexia sentimental e paranoica. Insistia. Ganhava resultado: Pânico e desequilíbrio. Foi ouvir uma música suave pra ver se curava.

(16/08/2013 - 03:48)